Postado em: 18/03/2019 - Últimas Notícias

Como a Rússia vem se tornando um polo destacado de inovação

[:pb]Por: Época Negócios Online

Ekaterina Vainberg, Diretora do Centro de Empreendedorismo de Moscou (Foto: Divulgação)

Fomento ao empreendedorismo e espaço para mulheres são políticas de sucesso do país, segundo especialista

Não é comum ouvirmos falar do que se passa na economia da Rússia. Mas o país vai muito além dos conflitos políticos e territoriais, assuntos locais que mais frequentemente chegam ao ocidente. A Rússia vem sendo citada como um crescente polo de inovação e diversidade no acesso à tecnologia, como mostram alguns levantamentos recentes.

Inc Magazine posicionou a capital russa, Moscou, como a segunda melhor cidade europeia para empresas privadas em rápido crescimento no ano passado. São Petersburgo ficou em nono na mesma lista.

O país vem sendo reconhecido também pelo espaço que dá às mulheres no ambiente de inovação – a despeito da moral conservadora que domina a política e religião russa. Em sua pesquisa internacional Women in Tech, a Unesco constatou que, na Rússia, as mulheres são 36% dos pesquisadores em tecnologia. Um percentual que, apesar de ainda abaixo da proporção ideal, é bem maior que o de economias desenvolvidas como Estados Unidos, Canadá, Alemanha (todos com 22%), Japão e Coreia do Sul (5% e 10%, respectivamente).

Uma dessas mulheres é Ekaterina Vainberg, chefe de programas de empreendedorismo no Centro de Empreendedorismo, em Moscou, e cofundadora da unidade russa da Singularity University. Ela foi uma das atrações da última edição da Scibiz Conference – evento realizado na USP no fim de fevereiro para promover a integração entre startups, grandes empresas e o ambiente acadêmico – e disse que há bons paralelos que podem ser traçados entre Rússia e Brasil quando o assunto é a busca pela inovação.

“Há várias lições que aprendemos recentemente, e vejo que o Brasil vem seguindo por um caminho parecido. Como ao engajar grandes corporações no mundo da startup, criando uma comunidade que uma os dois lados”, cita a especialista, em entrevista concedida a Época NEGÓCIOS durante o evento.

Ao intensificar esse processo, diz Ekaterina, é importante tomar alguns cuidados, como se certificar de que pesquisadores e investidores sejam incluídos no ecossistema de inovação, e garantir que não haja desperdício de recursos com programas repetidos em diferentes regiões. “Quando começamos a estimular esse ecossistema, há cerca de uma década, foram criados programas em várias universidades que faziam a mesma coisa. Hoje conseguimos unir empresas e pesquisadores em torno de objetivos em comum, e três iniciativas que seriam pequenas se tornam uma só, mais forte”, explica.

A Higher School of Economics de Moscou é um dos expoentes dessa postura, segundo ela. Criada na década de 1990 e com um programa de inovação desenvolvido há apenas sete anos, a instituição de ensino russa instalou um ambiente com incubadora e aceleradora de novos negócios, que já gerou 13 pequenas empresas nesse período.

Algumas startups russas quem vêm crescendo com sucesso desde esse esforço conjunto são a ID Finance, empresa de tecnologia para o mercado financeiro que atua em mercados emergentes – inclusive operando no Brasil; e a Doc+, de telemedicina. Ambas já receberam investimentos de fundos e empresas maiores na casa das dezenas de milhões de dólares.

Isso sme falar de sucessos mais antigos, como o comunicador instantâneo Telegram e a gigante da tecnologia Yandex, que bate o Google em pesquisas pela internet no país.

Tecnologia ajuda, mas não é tudo

Segundo Ekaterina, um erro que os empreendedores e acadêmicos russos vêm tentando reparar é o foco excessivo colocado na tecnologia. Com a tradição russa de competir com os americanos nesse campo – herdada desde a corrida espacial durante a Guerra Fria –, outros campos igualmente importantes foram deixados de lado.

“Hoje temos tecnologia de ponta sobrando, bons engenheiros, mas sofremos com a falta de bons gestores e processos adequados. Falta às pessoas conseguir ligar produtos de ponta a um crescimento sustentável. E sem os processos adequados, a tecnologia não ajuda muito, por melhor que seja”, aponta.

Parte do processo para corrigir esse problema é a formação de novos líderes. A própria Ekaterina foi uma das semifinalistas da última edição do programa Leaders of Russia (abra no Google Chrome e traduza a página para conferir a versão em inglês), criado pelo governo do país para reconhecer as jovens mentes mais brilhantes do país. Bolsas de estudos no valor de 1 milhão de russos (R$ 60 mil) e mentoria com líderes empresariais russos são alguns dos prêmios para os que destacarem.

Certo, para ela, é que parte fundamental da receita de sucesso é a integração entre empreendedores e acadêmicos – algo que ainda falta no Brasil. “É só olhar para os principais ecossistemas de inovação do mundo, como o Vale do Silício, Massachussetts, Pequim, para ver que universidades fortes estão envolvidas no processo.”

Fonte: Época Negócios Online[:]


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